Russa conta como aprendeu a entender a mente das crianças.
'Elas têm uma lógica irrefutável e são muito atentas', diz.
Tatiana Belinky conta como aprendeu a entender a mente das crianças (Foto: Reprodução/TV Globo)
Inteligente e bem humorada, a escritora Tatiana Belinky, aos 90 anos, se orgulha ao falar dos cinco netos e cinco bisnetos que criou “no colo”. “É estranho ter um filho que é avô. Preciso contar porque faço confusão”, brinca. E a carreira voltada ao público infantil não é à toa. Neste Dia da Avó, Tatiana conta como aprendeu a entender a mente e o comportamento das crianças.
“Crianças são incrivelmente inteligentes desde muito novas. Elas são como pequenos gravadores. Absorvem tudo o que está a sua volta. Uma vez uma professora me perguntou porque as crianças não gostam de estudar. É simples. Criança não gostar de estudar, gosta de apreender, ler o mundo. Elas têm uma lógica irrefutável e são muito atentas”, diz.
Uma avó típica assumida, a escritora acredita que toda criança gosta de ler. “Hoje meus netos e bisnetos moram longe, muitos já são adultos. Meu neto mais velho está com mais de 40 anos. Mas quando eles eram crianças viviam comigo. Eu contava histórias, fazíamos artesanato, brincávamos muito e líamos bastante. Eles sempre chegavam pedindo livros. Lembro-me também de recortar dinossauros, eles adoravam”, diz ao G1 a avó coruja.
O gosto pela leitura surgiu muito cedo, ainda na Europa, de onde veio para o Brasil aos 10 anos. “Eu aprendi naturalmente, como toda a criança. As placas de ruas na cidade de Riga, na Letônia, onde passei minha infância, eram escritas em três línguas: alemão, letão e russo", diz.
Dos seus avós, principalmente a avó materna e avô paterno, com quem conviveu, Tatiana guarda boas recordações, que, segundo ela, influenciaram sua forma de lidar com as crianças. “Cada avô meu tinha 15 filhos, então tinha muitos primos. Ainda assim a convivência com eles era ótima e bastante próxima. Meu avô era alto, grande, barbudo e imponente, mas ainda assim era carinhoso e podia ser doce com as crianças. Minha avó era muito carinhosa e tinha uma doçura enorme. Nunca vi nenhum deles sem um livro na mão. Eles fizeram de mim o que quer que eu seja hoje”, afirma.
A Infância
O primeiro contato de Tatiana com as crianças foi durante sua própria infância, ao ajudar na criação de sua irmão dez anos mais novo. “Minha mãe e meu pai trabalhavam e eu tinha que ajudar, fui ‘irmãe’ dele. Depois disso aprendi a me relacionar com o universo infantil com as próprias crianças da escola. Eu gosto demais de crianças”, diz.
Tatiana Belinky nasceu em São Petersburgo, na Rússia, em 1919, e veio para o Brasil aos 10 anos, já falando fluentemente três línguas: russo, alemão e letão. Aqui, em um mundo que considera “totalmente diferente” aprendeu com as “músicas, o clima, roupas e até rostos diferentes”.
Sempre estimulada à leitura, aos 3 anos, quando ainda morava em Riga, na Letônia, onde passou sua infância, tinha uma estante dos livros que já conhecia. “Meu pai sempre lia para mim e aprendi a ler sozinha aos 5 anos, mas qualquer criança é capaz de fazer isso se lhe derem a chance. A leitura fazia parte da minha vida como escovar os dentes e comer”.
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