O autocarro azul é a unidade móvel do projecto «Mão Cheia», uma iniciativa de uma instituição de solidariedade que pretende combater o insucesso escolar dando apoio a 80 crianças.
A bordo seguem uma psicóloga e uma professora, que acompanham os alunos sinalizados, cinco por cada escola.
«A ideia era descentralizar e o que fazemos é ir às escolas e junto das famílias para levar uma mão cheia de apoios nas vertentes social, psicológica e pedagógica», conta à agência Lusa Olga Louro, socióloga e coordenadora do projecto.
Projectos de futuro
Sem saber explicar porquê, André quer ser «pintor de quadros», enquanto Isaque mecânico ou, segundo a sua explicação, «arranjador de carros porque se ganha bué dinheiro», ambições aquém do esperado para meninos de 10 anos.
Flávia, influenciada pelo mundo das novelas a que ela e a família assistem na televisão, diz sem hesitar querer ser actriz.
Mais do que carências económicas ou fracas condições de habitabilidade, estas 80 crianças têm em comum serem oriundas de famílias socialmente desestruturadas, com pais com a escolaridade mínima (1º ciclo), sem grande interesse pela vida escolar dos filhos e com poucas perspectivas em relação ao seu futuro.
«Os pais acabam por incutir nos filhos que para se ganhar dinheiro não é preciso estudar muito», afirma Olga Louro.
Ainda não usam o computador Magalhães e o acesso às novas tecnologias «muitas vezes é dado para as manter ocupadas e não há um acompanhamento das famílias», sublinha por seu lado a psicóloga Patrícia Silva.
Apoio pedagógico e psicológico
A tudo isto acresce a falta de vivências pessoais fora do portão da escola que não só inibe o conhecimento de outras realidades para além das que encontram no meio em que se inserem, como também lhes limita a capacidade de sonhar e as conduz a uma «baixa auto-estima».
A tudo isto o autocarro do projecto «Mão Cheia» procura dar resposta, quer através de apoio pedagógico ou psicológico, quer levando as crianças a conhecer outras paragens, como aconteceu no Verão, quando passaram três dias com os técnicos do projecto numa colónia de férias em Oeiras.
«Não quer dizer que tenham dificuldades a nível cognitivo, mas por falta de estímulos por causa das condições sociais tiveram um crescimento condicionado», explica a psicóloga.
O «Mão Cheia» foi criado há três anos no âmbito do Plano de Desenvolvimento Social de Torres Vedras por uma instituição particular de solidariedade social (Centro Social e Paroquial de Campelos), para intervir nas freguesias de Campelos, Ramalhal, Silveira, Ponte Rol, São Pedro da Cadeira, Maceira e A-dos-Cunhados, onde a média de retenções dos alunos no último ano lectivo foi de 4,5 por cento.
IOL Diário - Portugal
24 de outubro de 2.008
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