Este assunto é complexo. Veja por exemplo, opinião em OGlobo de hoje:
Dogma e ciência
HELIO AGUINAGA
A melhor forma de combater a miséria, a fome e o aborto passa necessariamente em colocar à disposição da população, sobretudo das camadas mais carentes, todos os métodos contraceptivos cientificamente aprovados.
Há entre os católicos os que pensam que a Igreja é contra o planejamento familiar constituindo dogma inarredável, o que foge à realidade. Dogma é quando o Papa fala, infalivelmente, para todo o mundo em matéria de fé ou moral. A orientação da Igreja em relação ao planejamento familiar é determinada pelo seu Magistério, permitindo modificações conforme os avanços científicos. Tanto assim que o método de Ogino-Knaus, baseado nos dias de infertilidade normal das mulheres, é aceito e incentivado. A Igreja milenar sabe muito bem os efeitos devastadores de um crescimento demográfico descontrolado para as nações e no que diz respeito à dignidade humana.
Desde que assumiu o papado, João Paulo II se mostrou contrário a qualquer liberalidade da Igreja na questão do planejamento familiar. A controvérsia veio à tona no Sínodo Mundial dos Bispos quando diversos delegados se levantaram diante do Papa e instaram para que a Igreja encontrasse forma de acomodação para o vasto contingente de católicos romanos, conscientes e fiéis, que praticavam a contracepção utilizando métodos artificiais.
Na Assembléia Geral, com a presença de 216 bispos, o arcebispo de São Francisco, John Quinn, solicitou um exame completo e honesto do tema do planejamento familiar. O pleito foi secundado pelo cardeal britânico, George Basil Home, e acompanhado pelos bispos da Indonésia preocupados com a superpopulação. A grande maioria dos bispos presentes, 87%, apoiou a moção apresentada.
No mesmo dia, o cardeal Pericle Felice se tornou o porta-voz da facção conservadora do Vaticano, manifestando-se: “Não há possibilidade de se rediscuti-las. Não há necessidade de dar atenção para estatísticas porque estatísticas nada significam.”
O Papa João Paulo II, originário da ultraconservadora igreja polonesa, não carregou este epíteto e teve seu pontificado marcado por iniciativas inusitadas e corajosas, todas elas com a profunda convicção de estar realizando o que considerava absolutamente certo.
Pode-se duvidar que a retórica exposta pela “De Humanae Vitae” mantenha-se por muito tempo, mas é difícil de prever o que poderá ser a atualização coerente da doutrina.
HELIO AGUINAGA é integrante da Academia Nacional de Medicina.
Dogma e ciência
HELIO AGUINAGA
A melhor forma de combater a miséria, a fome e o aborto passa necessariamente em colocar à disposição da população, sobretudo das camadas mais carentes, todos os métodos contraceptivos cientificamente aprovados.
Há entre os católicos os que pensam que a Igreja é contra o planejamento familiar constituindo dogma inarredável, o que foge à realidade. Dogma é quando o Papa fala, infalivelmente, para todo o mundo em matéria de fé ou moral. A orientação da Igreja em relação ao planejamento familiar é determinada pelo seu Magistério, permitindo modificações conforme os avanços científicos. Tanto assim que o método de Ogino-Knaus, baseado nos dias de infertilidade normal das mulheres, é aceito e incentivado. A Igreja milenar sabe muito bem os efeitos devastadores de um crescimento demográfico descontrolado para as nações e no que diz respeito à dignidade humana.
Desde que assumiu o papado, João Paulo II se mostrou contrário a qualquer liberalidade da Igreja na questão do planejamento familiar. A controvérsia veio à tona no Sínodo Mundial dos Bispos quando diversos delegados se levantaram diante do Papa e instaram para que a Igreja encontrasse forma de acomodação para o vasto contingente de católicos romanos, conscientes e fiéis, que praticavam a contracepção utilizando métodos artificiais.
Na Assembléia Geral, com a presença de 216 bispos, o arcebispo de São Francisco, John Quinn, solicitou um exame completo e honesto do tema do planejamento familiar. O pleito foi secundado pelo cardeal britânico, George Basil Home, e acompanhado pelos bispos da Indonésia preocupados com a superpopulação. A grande maioria dos bispos presentes, 87%, apoiou a moção apresentada.
No mesmo dia, o cardeal Pericle Felice se tornou o porta-voz da facção conservadora do Vaticano, manifestando-se: “Não há possibilidade de se rediscuti-las. Não há necessidade de dar atenção para estatísticas porque estatísticas nada significam.”
O Papa João Paulo II, originário da ultraconservadora igreja polonesa, não carregou este epíteto e teve seu pontificado marcado por iniciativas inusitadas e corajosas, todas elas com a profunda convicção de estar realizando o que considerava absolutamente certo.
Pode-se duvidar que a retórica exposta pela “De Humanae Vitae” mantenha-se por muito tempo, mas é difícil de prever o que poderá ser a atualização coerente da doutrina.
HELIO AGUINAGA é integrante da Academia Nacional de Medicina.
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