Quase 15% são totalmente analfabetos; é a 1.ª vez que a capital avalia aprendizagem no final do primeiro ciclo
Simone Iwasso
A Prova São Paulo, avaliação aplicada pela Secretaria Municipal de Educação, indica que 80% dos alunos terminam a 2ª série do ensino fundamental alfabetizados. Ou seja, entendem o sistema alfabético, lêem textos simples e são capazes de escrever, mas com dificuldades ortográficas. Já 14,6% se mostraram totalmente analfabetos. O restante entregou as provas em branco ou com rabiscos, anulando o teste.
No entanto, eles ainda encontram problemas na hora de fazer tarefas mais elaboradas. Na redação, onde deveriam escrever um conto a partir de um texto proposto, a maior parte conseguiu cumprir o exigido razoavelmente bem, sendo classificados como regulares. Mas 25% deles tiveram conceito insuficiente, deixando a desejar em coesão, tema e ortografia.
Foi a primeira vez que a rede avaliou os estudantes no fim do primeiro ciclo de alfabetização - diagnóstico recomendado para que as escolas percebam mais precocemente quais alunos têm dificuldades. O Ministério da Educação (MEC) pretende fazer o mesmo com a Provinha Brasil, que deverá ser aplicada universalmente no País.
"A prova permite identificar, além da média geral da rede e da escola, os alunos que estão em cada nível de desempenho", afirma o secretário Alexandre Schneider, que divulgou os resultados ontem. "A escola receberá um relatório muito detalhado, que vai além só da média, para saber quais são os seus alunos que precisam de mais atenção e estão ficando para trás", complementa.
Já nos próximos dias, com o início do ano letivo, esse diagnóstico servirá para colocar os alunos com baixo desempenho nas aulas de reforço, que passarão a ser dadas também na 3ª série. Hoje, já existe o reforço do programa Ler e Escrever, oferecido há dois anos, que pode ser um dos fatores que explicam a quantidade de alunos que já entendem o sistema de leitura e escrita.
?SATISFATÓRIO?
"Ter 80% dos estudantes ao fim da 2ª série alfabetizados é bastante satisfatório, porque existe um conceito equivocado de que deveria ser 100%", afirma a educadora Silvia Colello, especialista em alfabetização da Universidade de São Paulo (USP). "A alfabetização é um processo que se desenvolve até a 4ª série. A escola e o professor precisam ficar atentos a isso para não pararem de estimular a escrita e leitura do aluno." O alerta, segundo ela, deve ser feito para professores da 3ª série que, por não se considerarem alfabetizadores, se esquecem dos alunos com dificuldades.
PROBLEMAS NA REDAÇÃO
Porém, nas séries seguintes o desempenho dos estudantes se complica um pouco, indicando que, talvez, alunos que entraram mais recentemente na rede possam estar se desenvolvendo melhor.
Na 4ª série, 17% deles não alcançaram os conhecimentos mínimos exigidos na avaliação de língua portuguesa e 44% não conseguiram fazer a redação: ou não desenvolveram o tema ou o tangenciaram. Apenas 11% tiveram conceito bom. Na 8ª série, os insuficientes na redação foram 36%, e metade deles ficou no conceito regular.
Nas médias gerais da prova, os alunos da 4ª série fizeram 167 pontos, numa escala que vai de 100 a 375. Na 8ª, chegaram a 241, para a mesma escala. As pontuações diferem pouco das obtidas pelo município na Prova Brasil, avaliação universal do MEC - a comparação é possível porque foi usada a mesma escala de proficiência.
MATEMÁTICA
Na hora de fazer contas, os estudantes da 2ª série, em média, se mostraram capazes de adições simples, subtrações entre dois números menores do que 100 e cálculo de despesas com figuras que representam moedas. Poucos, porém, conseguem ir além, identificando números em tabelas ou gráficos ou resolvendo problemas apresentados em figuras.
Na 4ª série, a média é capaz de somar e subtrair números com 3 ou 4 algarismos e resolver problemas de troco em operações de compra e venda. Como em língua portuguesa, poucos conseguem resolver operações mais complexas. Apenas 17% solucionam problemas com mais de uma operação, calculam perímetro de figuras ou escrevem números decimais em forma de frações.
A Prova São Paulo foi aplicada pela primeira vez em outubro do ano passado para 266 mil alunos do município.
Extraído de
O Estado de São Paulo
02 de janeiro de 2.008
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