Adriana Moreira
Um novo sistema de avaliação para todos os alunos da rede pública estadual entrou em vigor na sexta-feira, com a publicação de uma resolução no Diário Oficial. Todas as escolas vão adotar um mesmo padrão de médias bimestrais e anual, com notas em números inteiros de 0 a 10 - valores decimais devem ser arredondadas para mais. Assim, um aluno que obtiver nota 4,2 na média anual terá sua nota arredondada para cima e será aprovado com 5.
Segundo a secretária de Educação do Estado, Maria Lúcia Vasconcelos, a medida é o primeiro passo para a mudança na avaliação da progressão continuada, cuja avaliação passa a ser a cada dois anos, e não quatro, como ocorre hoje. “Começa com a 2ª série, em 2007, e em 2008 vale também para a 6ª”, diz. Assim, os alunos poderão ser reprovados na 2ª, 4ª, 6ª e 8ª séries.
A resolução publicada prevê que deve haver o “arredondamento para o número inteiro imediatamente superior” na nota bimestral, mas Maria Lúcia não acredita que isso possa beneficiar o aluno “preguiçoso”. “Acaba sendo até um estímulo. A diferença não está em meio ponto. O importante é o aluno saber o que se espera dele.”
A mudança no sistema de avaliação, de acordo com Maria Lúcia, teve como objetivo unificar os tipos de avaliação das escolas da rede. “Estamos procurando ter um diálogo mais próximo com as famílias”, afirma ela. “Isso causava uma confusão entre pais e alunos. Eram 13 padrões e esse foi o escolhido pela maioria das escolas”, diz.
Outro motivo para foi a criação de um sistema no qual os estudantes possam ter acesso aos seus boletins também pela internet, a partir de agosto.
A progressão continuada, desde sua implementação no Estado, em 1998, provoca polêmica entre pais, professores e educadores. Elogiadas por pedagogos como uma das maneiras de combater a evasão escolar, foi combatida por professores, que afirmaram perder autoridade dentro da classe.
A questão é que o modelo, usado em diversos países, foi compreendido aqui como uma aprovação automática. O sindicato dos professores (Apeoesp) chegou a classificar a mudança como um “paliativo”.
Para o professor especialista em política educacional e coordenador do projeto Pedagogia Cidadã da Universidade Estadual Paulista (Unesp), João Cardoso Palma Filho, a mudança no sistema de avaliação é irrelevante. “É preciso mudar a forma de ensinar”, acredita. “Em muitas escolas, o sistema de ensino é precário. Se a escola não ensina direito, não tem como cobrar.”
TERMÔMETRO
Quanto à diminuição no ciclo da progressão continuada, ele diz que “não importa o sistema, o que tem de ficar muito claro é que a avaliação tem de ser permanente, contínua”. “Muitas pessoas acham que é o sistema de avaliação o responsável pelo aprendizado. Eu penso que é um termômetro, indica apenas o que está acontecendo. É como dizer, ‘vou trocar de termômetro para ver se a febre vai baixar’.”
Ele acredita que, com a avaliação a cada dois anos, poderá até haver um ganho de qualidade no ensino, já que os professores terão de avaliar os alunos com mais freqüência. “Mas isso não tem nada a ver com aumentar a reprovação”, esclarece.
No entanto, ele não acredita que seja a mudança no sistema de avaliação que fará diferença no aprendizado. Segundo Palma, são outros fatores que melhoram a qualidade do ensino, como o tempo de permanência na escola, o material de aprendizagem, o número de alunos por sala e a formação do professor.
O professor do programa de Educação e Currículo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Fernando José de Almeida afirma que, para a progressão continuada dar certo, nos moldes do educador Paulo Freire, seria preciso haver uma avaliação constante nos alunos.
“Não é apenas a nota, mas ver por que o aluno não está aprendendo. É preciso ter reuniões semanais e discutir a capacidade de leitura, de escrita, de cálculo, e aí orientar o aluno.”
Para ele, o fato de o Estado decidir arredondar as notas para mais não representa prejuízo. “Isso pode beneficiar o aluno que se empenhou, mas não foi bem na prova. Não vejo problema em tirar pequenos décimos”, explica.
“A grande questão da educação é que os instrumentos de avaliação não são sempre adequados”, afirma. Segundo ele, não basta apenas aplicar provas, mas oferecer uma gama de recursos para avaliar o aluno o tempo todo.
COLABOROU SIMONE IWASSO
No
O Estado de São Paulo
Comentários