Pular para o conteúdo principal

Super professor

OGLOBO:

O professor ideal

ARNALDO NISKIER

Estamos vivendo uma curiosa fase dos “quase”. O escritor Carlos Heitor Cony lançou o seu “Quase Memória”, para muitos uma obra definitiva. Mais recentemente, tivemos o “Quase Danuza”, em que a jornalista desnuda suas dores e alegrias, pessoais e profissionais, pormenorizando sobretudo os históricos casamentos com Samuel Wainer e Antônio Maria.

Saímos da literatura para alcançar a educação. E, nela, abordamos o professor quase ideal. Não se conseguiu até hoje chegar ao mestre perfeito, sobretudo no período em que há transformações diárias na vida de cada um de nós. Se tivéssemos o professor ideal seria fácil promover a sua clonagem, com os recursos científicos e tecnológicos existentes. Não faltariam bons e categorizados mestres.

A perfeição existe no domínio divino. Ainda não é uma conquista à mão dos pobres mortais. E a clonagem está submetida a uma alentada discussão a respeito de valores éticos, no caso de se referir a seres humanos (inteiros ou aos pedaços). Isso ainda vai render muita polêmica.

Queremos trabalhar, no sistema de ensino, com o professor quase ideal. Com qualidades e virtudes especiais. Quando se aborda o professor se envolve igualmente o especialista. Não há melhor momento para essa indispensável virada. O MEC anuncia uma grande transformação nos cursos de Pedagogia, o que abre esperanças concretas de benefícios ao magistério brasileiro. Em muito boa hora.

A tecnologia avançada derruba saberes antigos — e com velocidade supersônica. O professor de hoje não é o sábio de antigamente. Na década de 50, por exemplo, convivemos com mestres, na então Universidade do Distrito Federal (UDF), quase inacreditáveis. Eram preparadíssimos nas suas cátedras, mas respondiam a questões de filosofia, história, religião como se fossem responsáveis por essas matérias. Infelizmente, esse conhecimento universal não mais se concentra na mesma pessoa. Vivemos a época dos especialistas, em que o maior empenho é a construção de competências, em nosso caso tomando como referência a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n 9.394/96).

Desde que por aqui passou, em 2001, o sociólogo suíço Philipe Perrenoud, deixou-nos a idéia de que o eixo de saber do professor foi transferido do conhecimento sobre as disciplinas ensinadas para a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações), a fim de solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações. O assunto foi desenvolvido no livro “As competências para ensinar no século XXI”, do autor citado e outros, Editora Artmédia.

Com a complexidade da relação ensino-aprendizagem, o professor se tornou não apenas o transmissor de conhecimento, mas o executor de atividades extra-educacionais. Com um ponto essencial. Como a aprendizagem agora é para sempre, o cotidiano passou a ter um imenso relevo, com requalificação contínua. Sugere-se o trabalho de equipe, dada a natureza multidisciplinar dos conhecimentos, e a reiteração dos estudos em psicologia, sociologia, biologia, ética, política, filosofia, religião, legislação, planejamento, marketing, gestão financeira e do conhecimento — e assim se terá o pretendido novo curso de Pedagogia, que deixará as habilitações em administração, supervisão, inspeção e orientação para o nível de pós-graduação, quando os professores já deverão ter experiência de magistério.

Assim, o professor quase ideal precisa ter uma série de qualidades como as que foram listadas com propriedade pela revista “Educação”, depois de ouvir diversos educadores: compromisso com o ensinar; saber contar histórias; promover situações significativas de aprendizagem; mediar problemas e conflitos; servir de exemplo; enxergar o conhecimento de forma não-fragmentada; saber trabalhar em equipe; ampliar o próprio repertório cultural; ter conhecimento teórico sobre grandes áreas do saber, para além da didática e da pedagogia; entender o aluno; estar aberto ao novo, mas com critério; estar preparado para ser o elo de comunicação entre família e escola; saber gerenciar a sala de aula; aprender a aprender (filtrar o que é relevante); entender o papel da TV e da internet; ter competência para ser orientador e também conselheiro.

Aí está um bom começo para discutir a missão do mestre neste esperançoso século XXI.
ARNALDO NISKIER é secretário estadual de Cultura do Rio de Janeiro.

Comentários

Postagens mais visitadas na última semana

ENCCEJA 2023

Aplicação do exame será no dia 27 de agosto. De 3 a 14 de abril, os participantes poderão justificar ausência no exame de 2022. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) publicou, nesta quarta-feira, 15 de março, no Diário Oficial da União (DOU), o Edital n.º 19, de 13 de março de 2023, que dispõe sobre as diretrizes, os procedimentos e os prazos do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) 2023. A aplicação para o ensino fundamental e médio será no dia 27 de agosto e ocorrerá em todos os estados e no Distrito Federal.

Política de Privacidade

"Política de Privacidade" "Este blog pode utilizar cookies e/ou web beacons quando um usuário tem acesso às páginas. Os cookies que podem ser utilizados associam-se (se for o caso) unicamente com o navegador de um determinado computador. Os cookies que são utilizados neste blog podem ser instalados pelo mesmo, os quais são originados dos distintos servidores operados por este, ou a partir dos servidores de terceiros que prestam serviços e instalam cookies e/ou web beacons (por exemplo, os cookies que são empregados para prover serviços de publicidade ou certos conteúdos através dos quais o usuário visualiza a publicidade ou conteúdos em tempo pré determinados). O usuário poderá pesquisar o disco rígido de seu computador conforme instruções do próprio navegador. O Google, como fornecedor de terceiros, utiliza cookies para exibir anúncios neste site. Com o cookie DART, o Google pode exibir anúncios para seus usuários com base nas visitas feit

18ª OBMEP

18ª Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas - OBMEP Acompanhe através da página OBMEP 06/07/2023 - Confira os gabaritos da 1ª fase 01/02/2023 - Inscrições até 17/03/2023 Promovida pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) , a maior competição científica do país reúne todos os anos mais de 18 milhões de estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio. Instituições públicas municipais, estaduais, federais e privadas podem participar. As inscrições são feitas exclusivamente pelas escolas e o prazo vai até 17 de março. A novidade deste ano é o aumento no número de premiações. Além de 8,4 mil medalhas de ouro, prata ou bronze oferecidas em todo o país, serão distribuídas pelo menos outras 20,5 mil medalhas a nível regional. A olimpíada vai conceder ainda o dobro de medalhas para escolas privadas, com o objetivo de incentivar a participação de mais instituições. A nível nacional, serão distribuídas 650 medalhas de ouro, 1.950 de prata e 5.850 b

Lista de blogs relacionados