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Pesquisa sugere que aluno aprovado tem melhor desempenho acadêmico
Alan Alves foi reprovado na segunda série do ensino fundamental. Desestimulado, ainda prosseguiu até o oitavo ano, quando repetiu novamente e decidiu abandonar os estudos. Atualmente, aos 22 anos, está de volta aos bancos da escola para concluir o supletivo, pressionado pelas exigências do mercado de trabalho. “Sem completar os estudos, fica difícil encontrar emprego”, conta. No Brasil, quase um em cada dez estudantes levou "bomba" em 2008. De acordo com dados do último Censo Escolar realizado pelo Ministério da Educação (MEC), 11,8% dos alunos do ensino fundamental das redes pública e privada passaram pela experiência e tiveram de passar 2009 revisando o que deveriam ter aprendido antes.
Fazer com que o aluno seja obrigado a rever todo o conteúdo de um ano escolar - ou seja, a reprovação - pode não ser a melhor opção para enfrentar o problema de estudantes com desempenho fraco. A conclusão é de uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Minas Gerias (UFMG). O estudo, coordenado por Luciana Soares Luz, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), comparou os níveis de aprendizado de mais de 5.000 estudantes dos dois anos finais do ensino fundamental em seis estados brasileiros – Goiás, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Rondônia e Sergipe.
A principal conclusão é que, a longo prazo, os alunos aprovados aprendem mais do que aqueles que foram reprovados. Em outras palavras, refazer um ano escolar não é garantia de aprendizado adequado. “E não estamos falando de um aluno que progrediu porque era melhor e outro que foi reprovado porque tinha nota piores. Mas, sim, de dois alunos cujos desempenhos eram semelhantes”, afirma a pesquisadora.
A especialista tem na ponta da língua uma explicação para o fenômeno. Segundo ela, os alunos aprovados evoluem mais porque, ao ascender na carreira escolar, encontram conteúdos novos, mais desafiadores e adequados à sua idade. Por outro lado, para os reprovados, rever assuntos já conhecidos tem efeito contrário. Patrícia Cursino, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lembra que a autoestima pesa quando o assunto é reprovação. “Quando isso acontece, o estudante sente que não atingiu o objetivo”, afirma.
A maioria das escolas brasileiras ainda opta pela reprovação. Elenice Lobo, do Colégio Santo Américo, em São Paulo, acredita no modelo. “As consequências negativas da retenção não dão conta da realidade. Se o aluno é retido, ele tem defasagem de conteúdo. Apesar do desconforto nos primeiros dias de aula, ao longo do ano ele resgata aquilo que lhe faltava e tem um desempenho acadêmico melhor”, afirma. Para minimizar os efeitos colaterais, a escola investe na integração do reprovado com a nova classe, além de esclarecer dúvidas com pais e pedir esforço redobrado ao professor. “Para exercer efeito positivo, a reprovação precisar ser bem aplicada”, diz Silvana Leporace, do Colégio Dante Alighieri. “Muitas vezes, é um fator que leva o aluno a recomeçar um processo pedagógico muito positivo.”
Pedro Henrique Rodrigues, de 19 anos, concorda. Ele foi reprovado pela primeira vez na sétima série. Mais tarde, experimentou mais duas retenções no primeiro ano do ensino médio. Não desanimou. Hoje, admite que, à época, não tinha condições de seguir em frente nos estudos. “Vejo que não tinha maturidade para avançar na escola. Mas, após as reprovações, encarei a situação como uma segunda chance”, conta.
Progressão continuada – A discussão sobre eventuais efeitos da reprovação na vida dos estudantes é um tópico antigo na área da pedagogia brasileira. O estudo mineiro vem reanimá-lo. Para aqueles que defendem o fim do mecanismo, uma das alternativas é o que ficou conhecido como progressão continuada. A prática trocou a tradicional aprovação/reprovação anual por ciclos de aprendizagem, que avaliam o estudante, mas não o reprovam - concentrando-se em acompanhar o desenvolvimento de cada aluno para sanar suas dificuldades. O modelo foi adotado há 14 anos no estado de São Paulo e desde então se expandiu a outras unidades da federação.
Formulada a partir de políticas e da realidade europeia, a progressão continuada previa uma avaliação dos estudantes ao fim dos ciclos. Em países como a Inglaterra, onde obteve bons resultados, os ciclos têm duração de apenas dois anos - e não quatro, como no Brasil. Naquele período, os alunos dividem a sala de aula com no máximo 30 colegas - algo incomum nas escola públicas do Brasil. Com um grupo reduzido, o professor pode dar atenção a cada aluno.
A política tem se mostrado eficaz. Levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 2007 mostra que países que baniram a repetência – como Noruega e Suécia – se encontram em situação melhor nos rankings internacionais de educação do que aqueles que a permitem. O relatório, porém, demonstra que outras nações que não adotaram a progressão continuada – caso da Bélgica – também colheram bons desempenhos nas avaliações.
No Brasil, a adoção do modelo ainda é controversa - e seus frutos, discutíveis. No último índice de educação feito pela Unesco, braço da Organização das Nações Unidas (ONU) para a educação e a cultura, o país ocupou apenas a 88ª posição entre 128 nações. Por sua vez, dados do Sistema Nacional da Avaliação da Educação Básica (Saeb) relativos ao período 1995-2005, quando a aprovação automática ganhou força, mostram que a qualidade do ensino piorou. Em 1995, a média de proficiência em língua portuguesa dos alunos da quarta série do ensino fundamental era de 188,3 pontos. Em 2005, caiu para 172,3 pontos. Na terceira série do ensino médio os números são mais alarmantes: 290 pontos, em 1995, ante 257,6 pontos.
Mesmo entre os especialistas que apoiam a aprovação automática, a medida é vista com ressalvas. “Aprovar automaticamente é melhor que reprovar”, acredita Stella Maris Bordoni, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília. “A repetência resulta em um grade desperdício de recursos e, o que é pior, alimenta estatísticas alarmantes de evasão”, defende. “Mas essa política precisa ser acompanhada de um cuidado maior com a evolução do trabalho de cada aluno.”
Esse acompanhamento ainda não é visto nas escolas brasileiras que adotam o sistema de aprovação automática, lembra Fernando Becker, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), um crítico do método nos moldes em que é aplicado atualmente. "Ouço relatos de professores de quinta série do ensino fundamental que lidam com crianças analfabetas, que não teriam condições de progredir nem para a segunda série", conta. "Esse sistema está dirigido para uma conjuntura político-eleitoreira e não para a lógica da demanda educacional. É interessante para um governo ter um sistema que não alimenta altos índices de reprovação e evasão escolar", acrescenta. "Inventou-se a aprovação automática para escamotear outros problemas". Neide Bittencourt, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sintetiza: "Muitos educadores afirmam que a reprovação traumatiza o aluno. No entanto, deixar que a criança chegue à quarta série do ensino fundamental sem saber ler e escrever é muito mais traumático. Incluir apenas por incluir é uma forma de exclusão", acredita. "A reprovação não vem no intuito de penalizar, mas, sim, fazer com que o aluno aprenda".
Pesquisa sugere que aluno aprovado tem melhor desempenho acadêmico
Alan Alves foi reprovado na segunda série do ensino fundamental. Desestimulado, ainda prosseguiu até o oitavo ano, quando repetiu novamente e decidiu abandonar os estudos. Atualmente, aos 22 anos, está de volta aos bancos da escola para concluir o supletivo, pressionado pelas exigências do mercado de trabalho. “Sem completar os estudos, fica difícil encontrar emprego”, conta. No Brasil, quase um em cada dez estudantes levou "bomba" em 2008. De acordo com dados do último Censo Escolar realizado pelo Ministério da Educação (MEC), 11,8% dos alunos do ensino fundamental das redes pública e privada passaram pela experiência e tiveram de passar 2009 revisando o que deveriam ter aprendido antes.
Fazer com que o aluno seja obrigado a rever todo o conteúdo de um ano escolar - ou seja, a reprovação - pode não ser a melhor opção para enfrentar o problema de estudantes com desempenho fraco. A conclusão é de uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Minas Gerias (UFMG). O estudo, coordenado por Luciana Soares Luz, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), comparou os níveis de aprendizado de mais de 5.000 estudantes dos dois anos finais do ensino fundamental em seis estados brasileiros – Goiás, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Rondônia e Sergipe.
A principal conclusão é que, a longo prazo, os alunos aprovados aprendem mais do que aqueles que foram reprovados. Em outras palavras, refazer um ano escolar não é garantia de aprendizado adequado. “E não estamos falando de um aluno que progrediu porque era melhor e outro que foi reprovado porque tinha nota piores. Mas, sim, de dois alunos cujos desempenhos eram semelhantes”, afirma a pesquisadora.
A especialista tem na ponta da língua uma explicação para o fenômeno. Segundo ela, os alunos aprovados evoluem mais porque, ao ascender na carreira escolar, encontram conteúdos novos, mais desafiadores e adequados à sua idade. Por outro lado, para os reprovados, rever assuntos já conhecidos tem efeito contrário. Patrícia Cursino, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lembra que a autoestima pesa quando o assunto é reprovação. “Quando isso acontece, o estudante sente que não atingiu o objetivo”, afirma.
A maioria das escolas brasileiras ainda opta pela reprovação. Elenice Lobo, do Colégio Santo Américo, em São Paulo, acredita no modelo. “As consequências negativas da retenção não dão conta da realidade. Se o aluno é retido, ele tem defasagem de conteúdo. Apesar do desconforto nos primeiros dias de aula, ao longo do ano ele resgata aquilo que lhe faltava e tem um desempenho acadêmico melhor”, afirma. Para minimizar os efeitos colaterais, a escola investe na integração do reprovado com a nova classe, além de esclarecer dúvidas com pais e pedir esforço redobrado ao professor. “Para exercer efeito positivo, a reprovação precisar ser bem aplicada”, diz Silvana Leporace, do Colégio Dante Alighieri. “Muitas vezes, é um fator que leva o aluno a recomeçar um processo pedagógico muito positivo.”
Pedro Henrique Rodrigues, de 19 anos, concorda. Ele foi reprovado pela primeira vez na sétima série. Mais tarde, experimentou mais duas retenções no primeiro ano do ensino médio. Não desanimou. Hoje, admite que, à época, não tinha condições de seguir em frente nos estudos. “Vejo que não tinha maturidade para avançar na escola. Mas, após as reprovações, encarei a situação como uma segunda chance”, conta.
Progressão continuada – A discussão sobre eventuais efeitos da reprovação na vida dos estudantes é um tópico antigo na área da pedagogia brasileira. O estudo mineiro vem reanimá-lo. Para aqueles que defendem o fim do mecanismo, uma das alternativas é o que ficou conhecido como progressão continuada. A prática trocou a tradicional aprovação/reprovação anual por ciclos de aprendizagem, que avaliam o estudante, mas não o reprovam - concentrando-se em acompanhar o desenvolvimento de cada aluno para sanar suas dificuldades. O modelo foi adotado há 14 anos no estado de São Paulo e desde então se expandiu a outras unidades da federação.
Formulada a partir de políticas e da realidade europeia, a progressão continuada previa uma avaliação dos estudantes ao fim dos ciclos. Em países como a Inglaterra, onde obteve bons resultados, os ciclos têm duração de apenas dois anos - e não quatro, como no Brasil. Naquele período, os alunos dividem a sala de aula com no máximo 30 colegas - algo incomum nas escola públicas do Brasil. Com um grupo reduzido, o professor pode dar atenção a cada aluno.
A política tem se mostrado eficaz. Levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 2007 mostra que países que baniram a repetência – como Noruega e Suécia – se encontram em situação melhor nos rankings internacionais de educação do que aqueles que a permitem. O relatório, porém, demonstra que outras nações que não adotaram a progressão continuada – caso da Bélgica – também colheram bons desempenhos nas avaliações.
No Brasil, a adoção do modelo ainda é controversa - e seus frutos, discutíveis. No último índice de educação feito pela Unesco, braço da Organização das Nações Unidas (ONU) para a educação e a cultura, o país ocupou apenas a 88ª posição entre 128 nações. Por sua vez, dados do Sistema Nacional da Avaliação da Educação Básica (Saeb) relativos ao período 1995-2005, quando a aprovação automática ganhou força, mostram que a qualidade do ensino piorou. Em 1995, a média de proficiência em língua portuguesa dos alunos da quarta série do ensino fundamental era de 188,3 pontos. Em 2005, caiu para 172,3 pontos. Na terceira série do ensino médio os números são mais alarmantes: 290 pontos, em 1995, ante 257,6 pontos.
Mesmo entre os especialistas que apoiam a aprovação automática, a medida é vista com ressalvas. “Aprovar automaticamente é melhor que reprovar”, acredita Stella Maris Bordoni, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília. “A repetência resulta em um grade desperdício de recursos e, o que é pior, alimenta estatísticas alarmantes de evasão”, defende. “Mas essa política precisa ser acompanhada de um cuidado maior com a evolução do trabalho de cada aluno.”
Esse acompanhamento ainda não é visto nas escolas brasileiras que adotam o sistema de aprovação automática, lembra Fernando Becker, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), um crítico do método nos moldes em que é aplicado atualmente. "Ouço relatos de professores de quinta série do ensino fundamental que lidam com crianças analfabetas, que não teriam condições de progredir nem para a segunda série", conta. "Esse sistema está dirigido para uma conjuntura político-eleitoreira e não para a lógica da demanda educacional. É interessante para um governo ter um sistema que não alimenta altos índices de reprovação e evasão escolar", acrescenta. "Inventou-se a aprovação automática para escamotear outros problemas". Neide Bittencourt, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sintetiza: "Muitos educadores afirmam que a reprovação traumatiza o aluno. No entanto, deixar que a criança chegue à quarta série do ensino fundamental sem saber ler e escrever é muito mais traumático. Incluir apenas por incluir é uma forma de exclusão", acredita. "A reprovação não vem no intuito de penalizar, mas, sim, fazer com que o aluno aprenda".
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