Pular para o conteúdo principal

Prova Brasil é tema de debate

Especialistas afirmam que para impactar a qualidade do ensino é preciso interpretar e utilizar resultados das avaliações em busca de soluções pedagógicas

A Prova Brasil foi tema do debate promovido hoje, 29/09, em São Paulo, pelo movimento Todos Pela Educação, com apoio da Andi - Agência de Notícias dos Direitos da Infância. Durante toda a manhã, foram discutidos os avanços e desafios da principal avaliação da Educação Básica do País, que deverá avaliar mais de 5 milhões de alunos entre os dias 19 e 30 de outubro. Para especialistas, a avaliação é vista como importante instrumento de controle social, mas ponderam que para impactar a qualidade do ensino é preciso interpretar e utilizar resultados das avaliações em busca de soluções pedagógicas.

O professor José Francisco Soares , da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, defendeu a necessidade de garantir a todas as crianças e jovens o direito ao aprendizado. Para ele, o País precisa avançar na qualidade do ensino, também reduzindo as desigualdades já existentes. O especialista acredita que a Prova Brasil além de ser uma importante ferramenta de trabalho para os gestores públicos, é um valioso instrumento de controle social e prestação de contas. Mas pondera ser necessário utilizar as avaliações para buscar soluções pedagógicas, pois "sem o uso dos resultados nas escolas, nada mudará".

Nessa mesma linha, Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva, secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, concorda que "se as escolas, diretores e professores não se apropriarem dos resultados, as políticas não terão impacto". Pilar reconhece que há uma dificuldade de compreensão da metodologia da Prova Brasil e diz que há um movimento na SEB no sentido de facilitar a compreensão da avaliação.

Por outro lado, a secretária acredita que o Ideb - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, que varia de 0 a 10, facilita a compreensão dos dados. Para ela, o índice é um importante fator de provocação e mobilização social, pois permite comparar como está o aprendizado nas redes de ensino e nas escolas. O Ideb - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - é calculado a partir das informações de desempenho dos estudantes em avaliações padronizadas - resultado médio dos alunos na Prova Brasil ou Saeb - e do rendimento escolar - taxa média de aprovação dos estudantes.

Na avaliação de Maria Helena Guimarães de Castro, ex-secretária de Educação de São Paulo e professora da Unicamp, há no Brasil uma ausência de pesquisas e estudos que "façam a interpretação pedagógica dos resultados das avaliações e, assim, subsidiar ações diretas na sala de aula" que impactem o aprendizado dos alunos. Além disso, a ex-secretária de São Paulo pondera que ainda falta fazer um "link entre a matriz curricular do Saeb (utilizada na Prova Brasil) e os currículos que os sistemas de ensino estaduais e municipais estão desenvolvendo".

Apesar de reconhecer que o País avançou bastante na construção e elaboração das avaliações, Maria Helena explica que ainda há muito que avançar em relação às "expectativas pedagógicas e de aprendizagem". De acordo com ela, não está claro o que é esperado que o aluno aprenda e as diretrizes curriculares não esclarecem de modo didático as ações que devem ser feitas para garantir o aprendizado.

O fato de muitas redes estaduais e municipais de Educação também realizarem avaliações externas também esteve presente no debate. Pilar defendeu a posição da presidente da ONG Ação Educativa, Vera Masagão, de que há sobreposição de esforços. Segundo ela, as redes poderiam avaliar outras disciplinas além de Língua Portuguesa e Matemática, como por exemplo, Ciências, ou mesmo levantar outras informações sobre o impacto da família na Educação e dados sobre inclusão, "pois localmente é mais fácil de ser feito", pondera.

Já Maria Helena acredita que há um grande avanço na realização das avaliações locais, sobretudo, porque "praticamente todos os sistemas estão seguindo a métrica nacional do Saeb/Prova Brasil e permitem a comparabilidade". Indagada sobre o Idesp - Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo, a ex-secretária afirmou que a medida veio para resolver um problema do sistema de avaliação do estado que não era comparável com a avaliação nacional e afirma que "tudo foi feito para dialogar".


A cobertura jornalística

A divulgação dos resultados das avaliações feita pela mídia foi alvo de críticas dos participantes do debate, sobretudo a utilização dos rankings. O professor Francisco Soares afirma que esta é "uma opção pobre de sintetizar os resultados", pois enfatiza algo que não só não é essencial como também não é justo, visto que nem todas as instituições e alunos participam das avaliações, e saem de pontos de partida muito diferentes. Além disso, ele ressalta que não deve haver competição na Educação, já que todos têm o direito ao aprendizado. Ele ainda afirma que é necessário cobrir mais e melhor a dimensão pedagógica do problema.

A abordagem do tema da progressão continuada pela mídia foi classificado como "viciado" pela secretária de Educação Básica. Segundo Pilar, a reprovação não garante a qualidade do ensino, por isso o debate deveria ser mais amplo. Ela afirma que as altas taxas de reprovação do País no passado resultaram em uma perversa exclusão de pobres da escola, contribuindo para hoje o Brasil tenha mais de 40 milhões de brasileiros com menos de quatro anos de escolaridade.

A Prova Brasil

A realização de avaliações educacionais externas começou no Brasil em 1990, quando o Inep - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - aplicou pela primeira vez o Saeb - Sistema Avaliação da Educação Básica. O exame é amostral e avalia alunos das redes pública e privada das zonas urbana e rural de 5º e 9º anos (4ª e 8ª séries) do Ensino Fundamental e 3º ano do Ensino Médio. Seus resultados são agregados por sistemas de ensino das regiões e estados brasileiros.

A partir do Saeb, surgiu a necessidade de ampliar o diagnóstico e conhecer o desempenho das escolas e das redes municipais. Para tanto, foi criada em 2005 a Prova Brasil, produz essas informações para todas as redes e escolas públicas urbanas do País. As duas avaliações seguem a mesma metodologia, seus resultados são comparáveis e, desde 2007, são operacionalizadas em conjunto.

Aplicada a cada dois anos pelo Ministério da Educação, a Prova Brasil avalia alunos do 5º e do 9º anos (4ª e 8ª séries) do Ensino Fundamental de todas as escolas públicas urbanas com mais de 20 alunos matriculados em cada série. São avaliadas os conhecimentos em Língua Portuguesa e Matemática.


Mais informações:

Veja as apresentações dos participantes do debate sobre a Prova Brasil:

 
Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva -  Como melhorar o Ideb
 
Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva -  sobre a Prova Brasil
 
 
Saiba mais sobre a Prova Brasil clicando aqui
 
Leia outras matérias produzidas sobre a Prova Brasil no site do Todos Pela Educação

Comentários

Postagens mais visitadas na última semana

ENCCEJA 2023

Aplicação do exame será no dia 27 de agosto. De 3 a 14 de abril, os participantes poderão justificar ausência no exame de 2022. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) publicou, nesta quarta-feira, 15 de março, no Diário Oficial da União (DOU), o Edital n.º 19, de 13 de março de 2023, que dispõe sobre as diretrizes, os procedimentos e os prazos do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) 2023. A aplicação para o ensino fundamental e médio será no dia 27 de agosto e ocorrerá em todos os estados e no Distrito Federal.

Política de Privacidade

"Política de Privacidade" "Este blog pode utilizar cookies e/ou web beacons quando um usuário tem acesso às páginas. Os cookies que podem ser utilizados associam-se (se for o caso) unicamente com o navegador de um determinado computador. Os cookies que são utilizados neste blog podem ser instalados pelo mesmo, os quais são originados dos distintos servidores operados por este, ou a partir dos servidores de terceiros que prestam serviços e instalam cookies e/ou web beacons (por exemplo, os cookies que são empregados para prover serviços de publicidade ou certos conteúdos através dos quais o usuário visualiza a publicidade ou conteúdos em tempo pré determinados). O usuário poderá pesquisar o disco rígido de seu computador conforme instruções do próprio navegador. O Google, como fornecedor de terceiros, utiliza cookies para exibir anúncios neste site. Com o cookie DART, o Google pode exibir anúncios para seus usuários com base nas visitas feit

18ª OBMEP

18ª Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas - OBMEP Acompanhe através da página OBMEP 06/07/2023 - Confira os gabaritos da 1ª fase 01/02/2023 - Inscrições até 17/03/2023 Promovida pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) , a maior competição científica do país reúne todos os anos mais de 18 milhões de estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio. Instituições públicas municipais, estaduais, federais e privadas podem participar. As inscrições são feitas exclusivamente pelas escolas e o prazo vai até 17 de março. A novidade deste ano é o aumento no número de premiações. Além de 8,4 mil medalhas de ouro, prata ou bronze oferecidas em todo o país, serão distribuídas pelo menos outras 20,5 mil medalhas a nível regional. A olimpíada vai conceder ainda o dobro de medalhas para escolas privadas, com o objetivo de incentivar a participação de mais instituições. A nível nacional, serão distribuídas 650 medalhas de ouro, 1.950 de prata e 5.850 b

Lista de blogs relacionados