Doutor em psicologia Escolar e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Yves de La Taille guarda críticas sobre como transcorre a expansão da Escolarização obrigatória no Brasil.
Doutor em psicologia Escolar e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Yves de La Taille guarda críticas sobre como transcorre a expansão da Escolarização obrigatória no Brasil. A partir de 2010, todas Escolas serão obrigadas a ampliar o ensino fundamental de oito para nove anos. Nesta entrevista, realizada por telefone na sexta-feira, ele alerta para os perigos da precocidade e defende mudanças de nomenclatura para reforçar o simbolismo das etapas da vida Escolar.O Ministério da Educação defende a entrada no ensino fundamental com 6 anos completos até fevereiro. Essa data de corte é 30 de junho em São Paulo e 31 de dezembro em outros Estados.
Qual é a idade mais adequada?
É um erro colocar no 1º ano um filho que vai completar 6 anos só em dezembro. Ao meu ver, a data que respeita a ideia de desenvolvimento é essa de 30 de junho. Só aceitar crianças com 6 anos já completos também não me parece razoável. No geral, em política pública, tem que buscar o equilíbrio. Claro que, num plano individual e familiar, depende do caso. Tem crianças que se desenvolvem mais devagar ou mais rápido.
A entrada precoce pode causar prejuízos no amadurecimento?
Nunca se deve deixar de pensar no desenvolvimento afetivo, na maturação afetiva. A criança pode ser extremamente esperta, precoce em determinados conhecimentos e numa determinada idade, mas isso não significa que ela seja precoce em tudo, madura fisicamente e moralmente. Ela pode estar mais adiantada em uma competência. Não que ela esteja mais adiantada em todos os aspectos do desenvolvimento. A precocidade existe e é rara. Não é algo necessariamente bom. Tem muita gente precoce que desenvolve problemas afetivos e emocionais. Na Escola, o precoce frequentemente se desinteressa.
Se uma criança começa a ler precocemente e pede mais leitura, os pais devem colocar limite?
De jeito nenhum. Se uma criança precocemente aprendeu a ler, deixe ler. O problema não é a atividade, o problema é a instituição. Se o meu filho de 5 anos está lendo e dou leitura para ele, ótimo. Agora, outra coisa é entrar mais cedo na antiga 1ª série (2º ano). É totalmente diferente. Mas o pai pensa que é tarefa dele pagar um educador. A tarefa de pai é educar, e não pagar.
O ensino fundamental de 9 anos muda algo na alfabetização?
Alfabetização para valer é tarefa do atual 2º ano. Aos 7 anos, a criança pode aguentar normas e uma sistematização maior. O critério que se usa para alfabetizar de forma sistemática com 7 anos, e não com 6 anos, é o critério psicológico. A psicologia diz que essas idades são bem diferentes do ponto de vista de desenvolvimento. A ideia é que se faça no 1º ano exatamente o que se fazia na pré-escola. No campo da moral e da ética, até os 6 anos de idade, a criança aprende muitas coisas brincando, o lado lúdico é essencial. Por isso, tem que se manter o brincar no 1º ano e não pode transformá-lo no que era a 1ª série.
Não é complicado entender que mudou o nome da pré-escola, mas não a proposta dela?
Eu não teria mexido nos nomes. Foi um erro. Essa matematização dos nomes é uma perda simbólica. É coisa burocrática dizer que a pré-escola passou para o ensino fundamental obrigatório e agora vai ser de 1 a 9. É como dizer que o Natal é o 25º dia de dezembro. São os tecnocratas da política. Só sabem pensar em números, planilhas. Não têm critério simbólico e não sabem o que é isso. O nome pré-escola é muito bom. Deixaria este nome. Todos sabem o que é pré-eleição, pré-jogo... pré-escola fica claro que ainda não é a Escola. Agora, séries ou anos 1, 2 ou 3 não dizem nada em termos simbólicos. Os nomes mostram identidade. Com números, você perde a referência, fica só uma sequência.
A pré-escola vai morrer, como os antigos primário e ginásio?
O medo que se tem é que, pouco a pouco, se esqueça o que é correspondente agora à pré-escola e que se trate uma criança de 6 anos como se ela fosse da antiga 1ª série. Não pode tratar crianças de 6 anos como crianças um ano mais velhas. Acho ótimo que as crianças tenham direito a ter mais cedo acesso à Escola, ainda mais para a rede pública. Porém, o 1º ano tem que ter ainda o jeito lúdico da pré-escola, ter brincadeiras.
23/08/2009 - JORNAL DA TARDE (SP)
Doutor em psicologia Escolar e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Yves de La Taille guarda críticas sobre como transcorre a expansão da Escolarização obrigatória no Brasil. A partir de 2010, todas Escolas serão obrigadas a ampliar o ensino fundamental de oito para nove anos. Nesta entrevista, realizada por telefone na sexta-feira, ele alerta para os perigos da precocidade e defende mudanças de nomenclatura para reforçar o simbolismo das etapas da vida Escolar.O Ministério da Educação defende a entrada no ensino fundamental com 6 anos completos até fevereiro. Essa data de corte é 30 de junho em São Paulo e 31 de dezembro em outros Estados.
Qual é a idade mais adequada?
É um erro colocar no 1º ano um filho que vai completar 6 anos só em dezembro. Ao meu ver, a data que respeita a ideia de desenvolvimento é essa de 30 de junho. Só aceitar crianças com 6 anos já completos também não me parece razoável. No geral, em política pública, tem que buscar o equilíbrio. Claro que, num plano individual e familiar, depende do caso. Tem crianças que se desenvolvem mais devagar ou mais rápido.
A entrada precoce pode causar prejuízos no amadurecimento?
Nunca se deve deixar de pensar no desenvolvimento afetivo, na maturação afetiva. A criança pode ser extremamente esperta, precoce em determinados conhecimentos e numa determinada idade, mas isso não significa que ela seja precoce em tudo, madura fisicamente e moralmente. Ela pode estar mais adiantada em uma competência. Não que ela esteja mais adiantada em todos os aspectos do desenvolvimento. A precocidade existe e é rara. Não é algo necessariamente bom. Tem muita gente precoce que desenvolve problemas afetivos e emocionais. Na Escola, o precoce frequentemente se desinteressa.
Se uma criança começa a ler precocemente e pede mais leitura, os pais devem colocar limite?
De jeito nenhum. Se uma criança precocemente aprendeu a ler, deixe ler. O problema não é a atividade, o problema é a instituição. Se o meu filho de 5 anos está lendo e dou leitura para ele, ótimo. Agora, outra coisa é entrar mais cedo na antiga 1ª série (2º ano). É totalmente diferente. Mas o pai pensa que é tarefa dele pagar um educador. A tarefa de pai é educar, e não pagar.
O ensino fundamental de 9 anos muda algo na alfabetização?
Alfabetização para valer é tarefa do atual 2º ano. Aos 7 anos, a criança pode aguentar normas e uma sistematização maior. O critério que se usa para alfabetizar de forma sistemática com 7 anos, e não com 6 anos, é o critério psicológico. A psicologia diz que essas idades são bem diferentes do ponto de vista de desenvolvimento. A ideia é que se faça no 1º ano exatamente o que se fazia na pré-escola. No campo da moral e da ética, até os 6 anos de idade, a criança aprende muitas coisas brincando, o lado lúdico é essencial. Por isso, tem que se manter o brincar no 1º ano e não pode transformá-lo no que era a 1ª série.
Não é complicado entender que mudou o nome da pré-escola, mas não a proposta dela?
Eu não teria mexido nos nomes. Foi um erro. Essa matematização dos nomes é uma perda simbólica. É coisa burocrática dizer que a pré-escola passou para o ensino fundamental obrigatório e agora vai ser de 1 a 9. É como dizer que o Natal é o 25º dia de dezembro. São os tecnocratas da política. Só sabem pensar em números, planilhas. Não têm critério simbólico e não sabem o que é isso. O nome pré-escola é muito bom. Deixaria este nome. Todos sabem o que é pré-eleição, pré-jogo... pré-escola fica claro que ainda não é a Escola. Agora, séries ou anos 1, 2 ou 3 não dizem nada em termos simbólicos. Os nomes mostram identidade. Com números, você perde a referência, fica só uma sequência.
A pré-escola vai morrer, como os antigos primário e ginásio?
O medo que se tem é que, pouco a pouco, se esqueça o que é correspondente agora à pré-escola e que se trate uma criança de 6 anos como se ela fosse da antiga 1ª série. Não pode tratar crianças de 6 anos como crianças um ano mais velhas. Acho ótimo que as crianças tenham direito a ter mais cedo acesso à Escola, ainda mais para a rede pública. Porém, o 1º ano tem que ter ainda o jeito lúdico da pré-escola, ter brincadeiras.
23/08/2009 - JORNAL DA TARDE (SP)
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