Censo feito pelo MEC aponta ainda que mais de 60% lecionam em um turno e 40% têm uma única turma
Lisandra Paraguassú, de O Estado de S. Paulo
Brasília - Professores que ganham mal, correm de uma escola para outra e atendem várias turmas o dia todo fazem parte de uma imagem recorrente das agruras do ensino básico brasileiro. No entanto, o primeiro censo completo do professor, que será apresentado hoje pelo Ministério da Educação, revela uma situação diferente.
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De acordo com o estudo, 80,9% dos docentes brasileiros trabalham em apenas uma escola, mais de 60% lecionam em um turno e quase 40% são responsáveis por somente uma turma. No total são pouco mais de 1,882 milhão de professores no ensino básico (que vai da creche ao médio), dos quais 309 mil são de escolas particulares.
O levantamento é o primeiro feito depois que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) implantou o EducaCenso - sistema em que cada aluno e professor é identificado e tem seus dados individuais acrescentados eletronicamente. Com isso, foi possível o MEC ter os dados de cada docente e onde trabalha. "Existia aquela ideia de que havia um contingente enorme de professores com um, dois, três vínculos empregatícios, o que não é verdade", diz o ministro da Educação, Fernando Haddad.
Apenas 3,2% dos docentes trabalham em três escolas ou mais. Mesmo de 5ª a 8ª séries (anos finais do ensino fundamental) e no médio, em que a divisão por disciplinas permite maior locomoção dos professores, cerca de 85% dão aulas em apenas uma escola. O que muda aí é o número de turmas. Da creche aos anos iniciais do ensino fundamental (de 1ª a 4ª séries), o normal é o professor com apenas uma turma. Nos demais níveis, geralmente há variação - nos anos finais, 56,8% dão aulas para até quatro turmas e no ensino médio 16% têm três turmas e 13,5% chegam a mais de 10 classes diferentes.
FORMAÇÃO
Dependendo do nível de ensino, o número de professores sem formação adequada varia de 10% a quase 30%. A maioria tem algum tipo de formação, mas ela não é própria para o que está ensinando. No País, 15.963 docentes (menos de 1% do total) cursou apenas o ensino fundamental. A maioria deles, 5.515, está dando aulas para 1ª a 4ª séries. No entanto, 441 estão ensinando para alunos do médio, nível que eles nem chegaram a cursar. Existem ainda 103.341 professores com o ensino médio completo, mas sem magistério, e outros 127.877 com curso superior, sem licenciatura.
Pelos dados do censo, quase 70% dos professores da educação básica têm curso superior, 90% deles com licenciatura. Nos anos finais do ensino fundamental, quase 80% têm curso superior, 73,4% com licenciatura. No ensino médio, esse índice sobe para 93,4% de graduados, 87% com licenciatura.
São justamente esses níveis de ensino que apresentam a pior qualidade nas avaliações nacionais, como a Prova Brasil.
A explicação, diz o ministro da Educação, é um misto de formação ruim - nem todo diploma significa uma boa graduação - e o mau trabalho feito até a 4ª série. "Esse professor enfrenta um desafio que ele não deveria estar enfrentando, que é a qualidade da formação dos anos iniciais. Ele já entra em sala de aula em situação mais difícil. Esse aluno não está preparado com as competências para se apropriar dos conteúdos da etapa seguinte", diz Haddad.
No entanto, esse aluno mal formado também passa por professores com formação considerada adequada: 54,9% têm curso superior, a maioria em Pedagogia. Outros 32,4% têm magistério de nível médio, ainda aceita pela legislação. Haddad admite que a atual formação nos cursos de graduação - especialmente na Pedagogia - deixa a desejar, daí a necessidade de mudar o currículo, como está sendo planejado.
O ministério também quer melhorar a situação dos docentes que estão em sala de aula, mas não têm a formação necessária para dar aulas.
Para a presidente do sindicato dos professores do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel Azevedo Noronha, o censo não retrata totalmente as situação do ensino, isso porque não é possível fazer o recorte das grandes cidades.
"Dizer que mais de 80% dos professores trabalham em uma só escola pode ser verdadeiro como média ou em muitos lugares, mas para mim não reflete a realidade da cidade de São Paulo", afirma.
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