Na avaliação de 90% dos docentes que participaram do estudo "Qualidade da Educação sob o olhar dos professores", os pais transferem responsabilidades para as instituições de ensino. Mais de 80% acreditam que as famílias não dedicam atenção suficiente para as atividades escolares do filhos. Os entrevistados que mais concordam com essa opinião são os das regiões Sudeste e Sul: 93%. "A responsabilização da família pelas dificuldades de aprendizagem dos alunos é uma concepção generalizada entre os professores brasileiros", diz a pesquisa.
Maiores críticos
Os professores que ministram aulas da 5ª à 8ª série do ensino fundamental são os mais críticos em relação a atuação dos pais. A pesquisadora Maria Campos, responsável pela análise dos dados, ressalta que os professores não levam em conta o fato de a maioria dos pais dos alunos da escola pública ter baixo nível de escolaridade e pouca familiaridade com as exigências da escola. Esses mesmos pais, segundo a pesquisadora, depositam na escola toda a esperança de um futuro melhor para seus filhos e, por isso, lutam para conseguir vagas nas escolas públicas e garantir que seus filhos permaneçam, mesmo se reprovados. A família, a mídia e os amigos estão à frente dos livros didáticos como os fatores que mais influenciam os alunos no contexto educativo.
Pior e melhor
Mais de um quarto dos professores entrevistados acreditam que o sistema escolar brasileiro é pior que o do resto dos países latino-americanos. Apenas 6,5% acreditam que é melhor. Os professores com menos experiência são os que consideram o sistema educativo brasileiro pior. Os mais experientes acham que são sistemas incompatíveis (37,1%). Os professores de escolas particulares são mais otimistas que os das públicas, uma vez que 11,2% deles consideram a educação brasileira melhor que de outros países latino-americanos.
Quase metade dos professores (49,4%) acredita que a educação no Brasil piorou, enquanto 14% acreditam que não mudou e 36,6% acreditam que melhorou. Os professores mais experientes são os mais pessimistas. "O pessimismo dos mais antigos veio com a reforma educacional de 1990, que obrigou todas as crianças de 7 a 14 anos a estarem matriculadas em escolas", explica Igor Mauro, diretor geral da SM. "Nem a estrutura, nem esses professores estavam preparados para esses milhões de novos alunos."
Futuro
Quando o assunto é o futuro da educação, o número de profissionais otimistas cresce: 60,5% acreditam que a situação vai melhorar. Nesse quesito, não há diferença significativa na opinião de professores do ensino público e privado. 73,1% dos docentes da rede privada acreditam num futuro promissor, frente a 57,9% dos que atuam na rede pública. Segundo Mauro, um dos problemas levantados pela pesquisa está no fato dos profissionais da educação não acreditarem que a escola de hoje possa realmente atender as demandas dos estudantes no futuro. Essa é a opinião de 53,2% dos entrevistados.
Outro problema constatado pelos professores é que recentes reformas curriculares atingiram as redes públicas de maneira heterogênea: "A proposta do currículo organizado organizado por áreas do conhecimento, elaborado pelo Conselho Nacional de Educação para o ensino médio, permanece em grande parte no papel, não tendo provocado muitas mudanças reais nas escolas", diz o estudo. A satisfação do professor com a escola onde trabalha também foi estudada.
Somente 37,7% dos docentes se declararam satisfeitos ou muito satisfeitos com o desempenho dos alunos. O estudo mostra uma contradição entre a boa avaliação que os entrevistados realizam sobre a maneira de ensinar dos professores e sua opinião negativa sobre o desempenho acadêmico dos alunos.
Carreira
A reforma do plano de carreira para os profissionais da educação, a ampliação da educação infantil em instituições públicas e a criação de um único exame vestibular em cada Estado, cuja nota possa servir para o acesso a todos os estudos são apontados pelos professores como mudanças necessárias para a melhoria da educação. Além de estarem pessimistas em relação à educação brasileira, os professores não estão satisfeitos com o tratamento que recebem.
Três em cada quatro consideram que a administração da escola em que atuam não valoriza suficientemente seu trabalho. A percentagem é ainda maior em relação à sociedade: 80,6% acreditam que não são valorizados pela sociedade. Ainda assim, 67,3% dos docentes dizem que não mudariam de profissão. O estudo mostrou que trabalhar com educação no Brasil ainda depende da vocação argumenta Mauro. Com tantas crises nesse setor, muitos jovens ainda querem ser professores.
JB Online
Terra
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