Amanda Cieglinski, Agência Brasil
BRASÍLIA - Um dos principais desafios para reduzir as taxas de analfabetismo é garantir a permanência e a continuidade dos estudos de quem foi alfabetizado. Segundo a professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e especialista em educação de jovens e adultos, Cláudia Vóvio, os índices de evasão nessas turmas chega a 20%.
- O desafio é assegurar a educação a esse grupo que tem tantas especificidades, que estão nos mais diferentes cantos do país, com condições sociais, de renda e de família tão diferentes. É preciso criar programas educativos que façam essas pessoas permanecer estudando. É um público que tem uma ligação muito tênue com a educação, ela ocupa um espaço menor na vida dessas pessoas - ressalta.
A professora Ana Cristina Araújo confirma a realidade. Há quatro anos, ela alfabetiza adultos em uma escola pública da cidade de Santa Maria, no entorno de Brasília.
- Tem dia que vem muito aluno, outros vem menos. A caminhada é longa e trabalhosa, por isso tem gente que desiste. Mas aí a gente liga ou cria estratégias para trazê-los de volta - conta.
Após garantir que os alunos concluam os cursos de alfabetização, o segundo passo é a continuidade dos estudos. Para o especialista em educação de jovens e adultos da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco) no Brasil, Timothy Ireland, intervenções curtas são “insuficientes para garantir o domínio das ferramentas de leitura e escrita de forma permanente”.
- Há muitos casos em que a pessoa participa de uma turma de alfabetização e um ano depois volta porque já esqueceu. A continuidade desse processo é fundamental para consolidar o que ela aprendeu - defende. Na turma de Ana Cristina, os alunos estão animados com o progresso e garantem que querem continuar.
- Essa foi uma oportunidade para começar e agora vou seguir em frente. Não quero parar mais e pretendo me formar, fazer faculdade. Com força de vontade, nada é difícil nesse mundo - afirma o aluno José Sérgio Dourado, de 34 anos, que agora já lê e escreve.
Maria das Graças da Silva, 52 anos, quer trocar logo a identidade de analfabeta assim que aprender a escrever o próprio nome.
- Enquanto eu não trocar de identidade, eu não vou desistir. Só vou sair daqui quando eu souber tudo que eu quero aprender - diz.
Outro ponto fundamental para solucionar o problema do analfabetismo é garantir a qualidade da educação. Segundo o diretor de políticas de educação de jovens e adultos do Ministério da Educação, Jorge Teles, um terço dos alunos que participam hoje do programa Brasil Alfabetizado já passaram por bancos escolares, mas ainda assim não sabem ler e escrever.
- Nós ainda temos jovens completando 15 anos como analfabetos funcionais. São pessoas que passaram pela escola e saíram sem ter sido alfabetizados. A qualidade da educação é fundamental para a gente estancar o processo, para a gente não gerar mais analfabetos nesse país - avalia
A diarista Sebastiana de Jesus, 44 anos, estudou até a 6ª série quando criança no Piauí, mas mal conseguia ler e escrever. Agora voltou a estudar para ajudar, nas tarefas da escola, o filho que tem dificuldade de aprendizagem.
- Eu decidi voltar a estudar porque meus filhos me cobram muito. Quero incentivá-los e já estou bem melhor agora. Me ajudando, eu ajudo ele - conta emocionada.
[11:58] - 08/09/2008
JB Online
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