Instrumento de gestão, o índice favorece um planejamento mais eficiente da Educação como um todo
Gustavo Heidrich
Mais um sobe e desce de números da Educação teve início nesta quarta-feira, dia 11, com a divulgação dos dados de 2007 do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) dos estados brasileiros pelo Ministério da Educação (MEC). Dessa vez, as estatísticas são, de forma geral, positivas, mostrando um crescimento dos níveis nos primeiros anos do Ensino Fundamental, mas também desvendando problemas no Ensino Médio. Consulte os dados. NOVA ESCOLA ON-LINE ouviu dois especialistas para levar a você, que está na sala de aula, informações que permitem formar uma opinião mais racional sobre os dados e saber como usá-los a seu favor para melhorar os processos de ensino e de aprendizagem.Para a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda, os resultados do Ideb não refletem todas as dimensões da Educação e não garantem a qualidade do ensino. "O professor precisa entender como o Ideb é calculado, o que ele significa (veja abaixo) e ter ciência do valor do índice na sua escola, no seu município e no seu estado. O índice deve ser levado em conta como mais um instrumento de diagnóstico da realidade escolar, como os números de reprovação e os resultados das avaliações. Por meio desses instrumentos o professor consegue planejar melhor seu trabalho e agir com mais eficácia no seu ambiente, produzindo qualidade", acredita a secretária. Os índices do seu município e da sua escola serão divulgados nos próximos dias.
Sobre os dados do Ideb de 2007, que em alguns casos superou as metas estipuladas pelo ministério para 2009 - a média brasileira de 1ª a 4ª série subiu de 3,8 para 4,2 e de 5ª a 8ª de 3,5 para 3,8, em uma escala de 0 a 10 -, Maria do Pilar acredita que o desafio será atingir os mesmos patamares de crescimento nas próximas edições do índice. "Tínhamos alguns estados com Idebs muito baixos que tiveram um crescimento significativo. É como se você tivesse 100 quilos e perdesse rapidamente 50, mas depois vai ficando cada vez mais difícil perder mais peso", compara.
A secretária acredita que até 2021 o país conseguirá atingir um Ideb nacional próximo de cinco pontos. "Isso nos colocaria no mesmo patamar de países desenvolvidos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mas para chegar lá precisamos estreitar ainda mais a colaboração entre o governo federal, estados e municípios, investir em formação continuada, nos professores e diretores de escola e na infra-estrutura de gestão", analisa.
Autor de vários livros sobre Educação e professor da Universidade de São Paulo (USP), Vitor Paro defende que o Ideb não pode servir de parâmetro para avaliar melhoras ou pioras na Educação. "É um erro achar que esse é um bom critério para avaliar a Educação como um todo. Educação não é um índice econômico. O Ideb é uma estatística baseada no desempenho dos alunos na Prova Brasil e no Saeb, avaliações que medem apenas o que foi transmitido de informação aos estudantes. Ele não leva em consideração o processo educacional como um todo, que envolve a apreensão da cultura em seu sentido maior e a formação de um cidadão completo e capaz", critica.
Para o professor da USP, o Ideb pode ser válido como um instrumento de gestão, desde que seja compreendido como uma estatística que mede apenas um aspecto do processo educacional. "Precisamos investir em mais livros para as escolas, melhoria das condições de trabalho dos professores e outras questões mais prioritárias que a aferição de índices. A história da educação nos diz que 'nenhuma criança aprende se não quer aprender', e levar uma criança a querer aprender é o papel de uma escola de qualidade. E isso não se mede nem se consegue apenas com um índice", diz Paro.
Segundo ele, os professores devem ter em mente que o índice é apenas uma pequena parte de um processo educacional que é muito mais complexo. "Para criar as condições de aprendizagem e não apenas transmitir conhecimentos que podem ser medidos em avaliações, é preciso conhecer psicologia, estudar Educação, capacitar-se. Infelizmente, nosso professores têm péssimas condições para isso. Como ele pode formar um leitor competente se ele mesmo não pode comprar um livro e ter amplo acesso a informação e a formação de qualidade?", questiona Paro.
O que é o Ideb?
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica é calculado com base nos dados de aprovação, reprovação e abandono nas redes de ensino de estados e municípios e nas escolas, medidos pelo Censo Escolar do MEC. Ele leva em consideração, também, o desempenho dos estudantes no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e na Prova Brasil, exames aplicados em todo o país pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O índice tem, entre outras funções, o objetivo de servir como referência para a destinação de recursos federais na área de Educação. A primeira edição do Ideb foi divulgada em 2006. Com base no Ideb, foi possível estipular metas de melhoria na qualidade do sistema de ensino. Leia mais sobre o tema.
Nova Escola On Line
12 de junho de 2.008
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