Medidas da Secretaria Estadual de Educação de mudar notas de letras para números e disponibilizar o boletim eletrônico aos pais não são suficientes para mudar do quadro de ensino da Capital, dizem os professores ouvidos pelo JT. Eles querem ações em sala de aula
BARTIRA BETINI, bartira.betini@grupoestado.com.br
A Secretaria Estadual de Educação implantou um novo sistema de avaliação que já está valendo. Os conceitos A, B, C, D e E foram substituídos por notas de 0 a 10, sem quebra, como 4,3. E os pais receberão a partir do próximo semestre o boletim do seu filho em casa e também terão acesso a ele por meio eletrônico de qualquer um dos telecentros da Capital.
Segundo a secretaria, para que tenha desempenho considerado suficiente, os alunos deverão ter nota igual ou maior que 5. Quanto ao boletim eletrônico, o objetivo é, além de facilitar o acesso dos pais ao desempenho e à freqüência do filho, modernizar os registros da vida escolar dos alunos. “No caso de uma transferência, por exemplo, será mais fácil o acesso da nova escola ao histórico do aluno”, explica a secretária Maria Lúcia Vasconcelos.
Educadores ouvidos pelo JT comentam as medidas. A professora Madalena Peixoto, da Faculdade de Educação da PUC-SP, acha que as novas regras não são suficientes para a melhora da educação pública. “A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo não conseguiu entender que, em educação, avaliação é processo. Nota ou conceitos são formas. Se temos um processo claro que determine o que o aluno deve apreender, se eu tenho um acompanhamento constante e avaliativo que detecte as dificuldades que os alunos individualmente possuem e se eu providencio na escola um suporte dentro ou fora de sala de aula, tanto faz se eu dou nota ou conceito, se eu arredondo nota ou não.”
Madalena acredita que o aluno com dificuldades em aprender não irá ficar mais estimulado se, em vez de tirar uma nota 4,1, receber 5,0. “Esse não é o caminho. Penso que a secretaria deveria estar apresentando para a sociedade brasileira um plano consistente de suporte e acompanhamento para os alunos da escola pública com dificuldades de aprendizagem geral ou específica. E para os professores condições efetivas de acompanhamento mais individualizado dos alunos.”
A professora Fátima Solange Rigo, que dá aula na rede estadual de 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental e do 1º ao 3º anos do Ensino Médio, aprova a idéia do boletim eletrônico. “A maioria dos pais não participa das reuniões, então será uma maneira de estar mais perto, dia-a-dia, da realidade escolar do filho.”
Sobre o arredondamento das notas, ela afirma que continuará usando seu bom senso. “Se o aluno tem 4,2, eu não vou arredondar para 5, vou continuar fazendo o que faço hoje: dou o conceito baixo, mas vou estimulá-lo para que alcance melhores resultados.” Para o professor de matemática, João Batista do Nascimento, a forma proposta é apenas uma mudança de escala e nada mais. “Sem poder nenhum de nos apontar melhora substancial.”
SAIBA MAIS
Em 1976, a rede passou a usar os conceitos A, B, C, D e E
Com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que estabelece o critério de autonomia, cada unidade pôde escolher uma forma de avaliação
Existiam mais de 13 formas de dar notas nas escolas estaduais
A nova regra estabelece um único critério de avaliação para toda a rede
Outra mudança é que os ciclos da Progressão Continuada serão avaliados de 2 em 2 anos
Para a secretária Maria Lúcia, essa alteração será um passo para diagnosticar as deficiências. “Começa com a 2ª série e no ano que vem valerá também para a 6ª”
Do
Jornal da Tarde
22 de maio de 2.007
Comentários