Do Opinião de O Globo de hoje:
O que faz o governo?
SILVINA ANA RAMAL
Recentemente esteve no Brasil o professor Seymour Papert, do Massachusetts Institute of Technology, que se reuniu com o presidente Lula para falar de seu projeto de pesquisa. Em seguida, o detalhou em palestra na PUC-Rio.
O projeto de Papert tem como objetivo democratizar o acesso de populações de baixa renda à tecnologia, especialmente crianças e jovens: trata-se de fabricar um notebook que seja vendido por cem dólares. O equipamento idealizado para isso é bem mais simples que os modelos atuais do mercado, mas terá muitas das facilidades que se espera de um computador, e o principal: acesso à internet de alta velocidade através de conexão sem fio.
O projeto em si segue uma tendência de mercado: os eletrônicos têm um ciclo de vida cada vez menor, sofrendo reduções drásticas de preços em períodos curtos de tempo. Mas representa uma oportunidade para que milhares de crianças e jovens ingressem no mundo digital.
O desafio urgente é: o que fazer com essa grande base instalada? As indústrias do entretenimento, da comunicação e da propaganda há alguns anos se preparam para as receitas crescentes que podem gerar com a disseminação dos computadores conectados à internet e a inserção de novos segmentos da sociedade no mundo digital. É para isso que estão criando sites de amenidades, jogos em rede, orkuts, espaços de bate-papo on-line e similares. E o que fazem, enquanto isso, o setor da Educação e o governo?
É fundamental aliar aos investimentos em máquinas um investimento igualmente significativo em Educação para estas novas mídias. Será que vamos repetir o mesmo erro cometido com o rádio e a televisão, em que de modo geral predominou o interesse comercial ao invés do cultural e educativo?
A revolução da informática e das telecomunicações é inevitável: um caminho sem volta. Resta saber como vamos trilhá-lo.
Algumas escolas públicas e privadas do Brasil, assim como ONGs, já desenvolvem trabalhos admiráveis, seguindo a filosofia de que o computador não é um fim em si, mas um meio para formar melhor o ser humano. Podemos destacar, por exemplo, o Comitê para Democratização da Informática (CDI) com suas Escolas de Informática e Cidadania, e a Fundação Roberto Marinho, com projetos como o Multicurso de Matemática. É preciso que todas as escolas, ONGs, governos, sigam essa lógica.
Num futuro próximo, notebooks cairão com facilidade nas mãos de jovens de classes sociais diversas, assim como acontece hoje com rádios e televisões.
É indispensável que, além dos softwares e conexões, as políticas prevejam uma pedagogia acoplada às máquinas, que as ponha a serviço da formação do ser humano, da democratização do acesso à informação, da criação de canais que permitam ouvir vozes que normalmente não podem se expressar. E, assim, possam funcionar como instrumento de mudança social.
SILVINA ANA RAMAL é diretora da ID-Projetos Educacionais.
O que faz o governo?
SILVINA ANA RAMAL
Recentemente esteve no Brasil o professor Seymour Papert, do Massachusetts Institute of Technology, que se reuniu com o presidente Lula para falar de seu projeto de pesquisa. Em seguida, o detalhou em palestra na PUC-Rio.
O projeto de Papert tem como objetivo democratizar o acesso de populações de baixa renda à tecnologia, especialmente crianças e jovens: trata-se de fabricar um notebook que seja vendido por cem dólares. O equipamento idealizado para isso é bem mais simples que os modelos atuais do mercado, mas terá muitas das facilidades que se espera de um computador, e o principal: acesso à internet de alta velocidade através de conexão sem fio.
O projeto em si segue uma tendência de mercado: os eletrônicos têm um ciclo de vida cada vez menor, sofrendo reduções drásticas de preços em períodos curtos de tempo. Mas representa uma oportunidade para que milhares de crianças e jovens ingressem no mundo digital.
O desafio urgente é: o que fazer com essa grande base instalada? As indústrias do entretenimento, da comunicação e da propaganda há alguns anos se preparam para as receitas crescentes que podem gerar com a disseminação dos computadores conectados à internet e a inserção de novos segmentos da sociedade no mundo digital. É para isso que estão criando sites de amenidades, jogos em rede, orkuts, espaços de bate-papo on-line e similares. E o que fazem, enquanto isso, o setor da Educação e o governo?
É fundamental aliar aos investimentos em máquinas um investimento igualmente significativo em Educação para estas novas mídias. Será que vamos repetir o mesmo erro cometido com o rádio e a televisão, em que de modo geral predominou o interesse comercial ao invés do cultural e educativo?
A revolução da informática e das telecomunicações é inevitável: um caminho sem volta. Resta saber como vamos trilhá-lo.
Algumas escolas públicas e privadas do Brasil, assim como ONGs, já desenvolvem trabalhos admiráveis, seguindo a filosofia de que o computador não é um fim em si, mas um meio para formar melhor o ser humano. Podemos destacar, por exemplo, o Comitê para Democratização da Informática (CDI) com suas Escolas de Informática e Cidadania, e a Fundação Roberto Marinho, com projetos como o Multicurso de Matemática. É preciso que todas as escolas, ONGs, governos, sigam essa lógica.
Num futuro próximo, notebooks cairão com facilidade nas mãos de jovens de classes sociais diversas, assim como acontece hoje com rádios e televisões.
É indispensável que, além dos softwares e conexões, as políticas prevejam uma pedagogia acoplada às máquinas, que as ponha a serviço da formação do ser humano, da democratização do acesso à informação, da criação de canais que permitam ouvir vozes que normalmente não podem se expressar. E, assim, possam funcionar como instrumento de mudança social.
SILVINA ANA RAMAL é diretora da ID-Projetos Educacionais.
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